400 mil goianos enfrentaram no ano passado situação grave de privação de alimentos, incluindo experiência de fome, segundo suplemento da Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios (Pnad) 2013 sobre Segurança Alimentar desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A preocupação ou incerteza quanto à aquisição e consumo de alimentos também atormenta quase um milhão de pessoas no Estado.

A supervisora de pesquisas econômicas do IBGE em Goiás, Mariana Celani, considera os índices goianos positivos, já que houve aumento na segurança alimentar e redução no número de pessoas que efetivamente passam fome no Estado. De acordo com o levantamento, em 2013, 2,7% dos lares não tinham o que comer, enquanto em 2004 o percentual era de 5,3%.

A pesquisa aponta que quase 80% dos domicílios em 2013 com algum tipo de insegurança alimentar, ou seja, com risco de falta de recursos para comida, tinham renda per capita mensal igual ou inferior a um salário mínimo. Para a presidente do Conselho Estadual de Assistência Social, Denise Barra, isso reforça que a insegurança alimentar está diretamente ligada ao poder aquisitivo. “O acesso diário a alimentos depende, essencialmente, da pessoa dispor de renda para comprar os alimentos e uma parcela substancial da população tem rendimentos tão baixos que a coloca em situação de insegurança alimentar, reduzindo a qualidade e quantidade da alimentação”.

Para Denise, a região que mais sofre com a fome em Goiás é o nordeste do Estado. “São regiões pobres, com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e que reúne povos indígenas e quilombolas, mais expostos a estes problemas sociais”.

Para o IBGE, os domicílios com insegurança alimentar leve são aqueles em que foi detectada alguma preocupação com a quantidade e qualidade dos alimentos disponíveis. Naqueles com insegurança alimentar moderada, os moradores conviveram com a restrição de alimento em termos quantitativos. Já nos domicílios com insegurança alimentar grave, os membros da família passaram por privação de alimentos, cujo grau mais extremo é a fome.

A presidente do conselho diz que os programas sociais como o Bolsa Família (nacional) e o Renda Cidadã (estadual) contribuíram para a redução dos índices do Pnad. “Esta renda tem possibilitado aos assistidos investirem em alimentação. Quando conversamos com as famílias, percebemos que fortaleceu também a questão da qualidade, que elas dizem poder ter uma fruta na mesa”, conta.

Nacional
Por meio de assessoria, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) destacou o fato de o número de domicílios brasileiros em situação de segurança alimentar ter subido de 65,1% para 77,4% entre 2004 e 2013, o que significa que 149,4 milhões de brasileiros não apresentam qualquer restrição alimentar ou, pelo menos, preocupação com a possibilidade de ocorrer restrição devido à falta de recursos para adquirir alimentos. “O Brasil vive um momento estratégico de redução sistemática da insegurança alimentar. É o oposto do que ocorre em outros países desenvolvidos”, destaca a ministra Tereza Campello, via assessoria.

O Estado com o maior índice de segurança alimentar foi o Espírito Santo, com 89,65% dos domicílios, seguido de Santa Catarina, com 88,9%, e São Paulo, com 88,4%. A melhoria foi verificada principalmente nos grupos de menor escolaridade, crianças, idosos e pretos e pardos.

Para o secretário de Avaliação e Gestão da Informação do MDS, Paulo Jannuzzi, várias políticas públicas contribuíram para a redução do número de pessoas sob insegurança alimentar grave. “Podemos citar o aumento real do salário mínimo, a ampliação do Bolsa Família, a queda do desemprego e Programa Nacional de Alimentação Escolar, que fornece alimentos diariamente a 43 milhões de estudantes da rede pública”.

Mas ainda são 52 milhões de brasileiros sem acesso diário à comida de qualidade e na quantidade satisfatória. Dos 65,3 milhões de domicílios registrados, 22,6% estavam em situação de insegurança alimentar. Esse percentual era 29,5% em 2009 e 34,8% em 2004, anos anteriores da pesquisa. Em 17,1% dos lares havia insegurança alimentar leve.

Ao analisar a evolução de domicílios entre as zonas rural e urbana, o IBGE apurou que a parcel a com insegurança alimentar na zona rural era de 43,7% em 2004, e diminuiu para 35,2% em 2009 – mas cresceu para 35,3% em 2013. Em contrapartida, na zona urbana, nos mesmos anos, a parcela de domicílios com insegurança alimentar caiu, no mesmo período, sendo de 33,3% em 2004; de 29,3% em 2009; e de 20,5% em 2013.

Em relação às regiões do país, o Norte e o Nordeste tinham o maior número de domicílios com pessoas em situação de insegurança alimentar (36,1% e 38,1%, respectivamente) no ano passado. Nas outras regiões esse percentual não chegou a 20%. O Sudeste apresentou o menor índice, 14,5%. Norte e Nordeste também concentravam os maiores percentuais de domicílios com pessoas em situação de insegurança alimentar grave (6,7% e 5,6%).

Fonte: O Popular

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