A filantropia é fundamental para equilibrar a economia e reduzir desigualdades. Ela consiste no esforço dos economicamente mais bem-sucedidos em ajudar os economicamente mais frágeis. Os argumentos por trás desse esforço são a construção de uma sociedade mais equilibrada e saudável. Mas a essência por trás dos argumentos envolve interesse – ou recompensa – para o doador. Um futuro melhor é aquele que tira mendigos da porta de sua casa? Que diminui as causas dos conflitos na sociedade? Que lhe garante um lugar no céu?

Independentemente do que nos leva a doar, a motivação é alguma recompensa a quem doa ou ao grupo de que faz parte. Pense nos grandes atos filantrópicos, como doações de famílias a hospitais. Aqueles que doam em vida são movidos pelo amor ao próximo ou pela expectativa de garantir acesso irrestrito aos melhores médicos, quartos e tratamentos? Aos que doam no fim de sua vida, quanto do ato é motivado pela vontade de garantir privilégios aos sucessores?

É sabido que, nos Estados Unidos, a prática filantrópica entre os mais abastados é regra, não exceção. Será que eles são movidos pelo bem-estar comum ou pela alíquota de 50% de imposto sobre grandes heranças? Lá, assim como aqui, a administração pública é menos eficiente do que a privada, por isso os ricos criam fundações para garantir o destino desejado a suas volumosas doações.

No Brasil, pratica-se muito assistencialismo, mas pouca filantropia. A sociedade civil faz a caridade que ameniza a dor, mas pouco resolve os problemas. O governo destina parte substancial do orçamento público a uma redistribuição de renda não sustentável e eleitoreira, deixando a desejar na infraestrutura que atenderia a todos de maneira mais equânime.

Com serviços públicos ruins, famílias ricas têm de gastar mais com saúde, segurança, educação e bem-estar, deixando de lado a atenção ao próximo. Com o assistencialismo público como bandeira, a percepção geral é que, disso, a ação pública dá conta – o que diminui a intenção de doar. Estamos presos a um ciclo de ineficiência: o governo espera mais impostos dos mais ricos, cada vez menos propensos a doar e menos satisfeitos com o destino de suas contribuições. O assistencialismo não atende às necessidades da sociedade, gerando cada vez mais dependência de raras doações e de crescentes arrecadações. Isso enfraquece a sociedade, diminuindo as expectativas de recursos para redistribuição de renda. A filantropia pública é uma maneira disfarçada de comunismo, que não sobrevive. Para que a filantropia sustentável seja praticada, é preciso estímulo a sua prática, igualdade nas ações públicas e eficiência na administração de recursos arrecadados. Temos muito o que amadurecer nesse quesito.

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